Um desafio: narrar a história do movimento hip hop em Manaus em apenas duas horas. O desafiado: DJ Marcos Tubarão. Foi assim, em uma tarde de sábado, entre um evento e outro realizado pelo Coletivo Difusão, do qual o DJ é integrante, que tivemos uma conversa sobre o histórico e o desenvolvimento da cultura hip hop na cidade. Durante uma caminhada pelo Centro da cidade, Marcos Tubarão, uma das figuras-chave da cultura de rua da capital amazonense, descreveu o embrião do movimento em meados dos anos 80, seu fortalecimento e consolidação nos 90 até o atual estágio de pulverização.
Para compreender a consolidação do hip hop no Brasil é necessário, primeiramente, repensar a ideia de que o movimento surgiu em São Paulo, na estação São Bento. Afinal, no início dos anos 80, simultaneamente jovens tanto no Paraná, quanto no Amazonas e em diversos outros estados, fora São Paulo, já dançavam break ao som de ritmos como miami, funk, eletro rock e rap. Influenciados pelo cinema – em filmes que foram sucesso na época como Wild Stile, Breaking e Beat Street, o primeiro a trazer os quatro elementos da cultura – o hip hop surgiu principalmente como uma moda entre essa juventude, apresentava um novo jeito de se vestir, um novo jeito de falar, e assim como o rock brasileiro, servia de válvula de escape para uma parcela da sociedade que necessitava de meios de expressão no contexto de abertura política pré-democracia.





Em Manaus, na metade dos anos 80, vários adolescentes embalados pela onda break, passaram a se reunir para ouvir o “break falado” – como chamavam o rap na época – e compor coreografias para disputar os concursos das boates e casas noturnas, os principais sendo realizados no Sheik Club e no Bancrevea. Com o passar dos anos e os esfriamento da moda break, as boates foram tirando o ritmo do seu repertório, ao mesmo tempo em que esses grupos sentiam a necessidade de encontrar um som com que pudessem se identificar. Assim, no final dos anos 80 e início dos 90, começam a organizar os primeiros bailes de rap na cidade, os pioneiros do que viria a ser o movimento hip hop da cidade ocupam espaços alternativos e utilizam escolas, centros comunitários e clubes em bairros mais afastados do Centro.
Ganhando cada vez mais corpo e necessitando de maior organização, os bailes de rap convergiram para a fundação do MHM – Movimento Hip Hop Manaus, em abril de 1994. Com a necessidade natural de algo mais estruturado, os apreciadores do hip hop cresciam cada vez mais, em número e no alcance dos lugares, atingindo fortemente a nova periferia da cidade. Assim, nesses eventos onde cada vez mais convergiam as quatro vertentes do hip hop – MCs, DJs, b. boys e grafiteiros – a troca de informações e a consolidação de uma verdadeira cultura hip hop foi fortalecendo a ideia de uma instituição organizada, da forma como vinha acontecendo no país afora.


Nos primeiros anos do MHM, a função principal do movimento era a realização dos bailes, assim garantindo um ponto de encontro e local de troca de informações sobre hip hop. De forma natural, com a forte presença desses bailes em diversas escolas, eles começaram a mostrar para o restante da sociedade os benefícios do uso das escolas públicas durante os finais de semana como locais de lazer e integração com a sociedade. Consolidaram a partir disso o projeto Hip Hop na escola, que ganhou repercussão nacional ao receber menção honrosa da revista Isto É como referência de projeto social, e que 10 anos depois seria agregado ao projeto do governo Galera Nota 10.


Texto escrito por Allan Gomes, do Coletivo Difusão, para a primeira edição da Revista de Música Independente Intera.
 ASSESSADO EM 09/05/2013 ÁS 14:45 HORAS